A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil –
CNBB lamenta profundamente a decisão do Supremo Tribunal Federal que
descriminalizou o aborto de feto com anencefalia ao julgar favorável a Arguição
de Descumprimento de Preceito Fundamental n. 54. Com esta decisão, a Suprema
Corte parece não ter levado em conta a prerrogativa do Congresso Nacional cuja
responsabilidade última é legislar.
Os princípios da “inviolabilidade do direito à
vida”, da “dignidade da pessoa humana” e da promoção do bem de todos, sem
qualquer forma de discriminação (cf. art. 5°, caput; 1°, III e 3°, IV,
Constituição Federal), referem-se tanto à mulher quanto aos fetos anencefálicos.
Quando a vida não é respeitada, todos os outros direitos são menosprezados, e
rompem-se as relações mais profundas.
Legalizar o aborto de fetos com anencefalia,
erroneamente diagnosticados como mortos cerebrais, é descartar um ser humano
frágil e indefeso. A ética que proíbe a eliminação de um ser humano inocente,
não aceita exceções. Os fetos anencefálicos, como todos os seres inocentes e
frágeis, não podem ser descartados e nem ter seus direitos fundamentais
vilipendiados!
A gestação de uma criança com anencefalia é um
drama para a família, especialmente para a mãe. Considerar que o aborto é a
melhor opção para a mulher, além de negar o direito inviolável do nascituro,
ignora as consequências psicológicas negativas para a mãe. Estado e a
sociedade devem oferecer à gestante amparo e proteção
Ao defender o direito à vida dos anencefálicos, a
Igreja se fundamenta numa visão antropológica do ser humano, baseando-se em
argumentos teológicos éticos, científicos e jurídicos. Exclui-se, portanto,
qualquer argumentação que afirme tratar-se de ingerência da religião no Estado
laico. A participação efetiva na defesa e na promoção da dignidade e liberdade
humanas deve ser legitimamente assegurada também à Igreja.
A Páscoa de Jesus que comemora a vitória da vida
sobre a morte, nos inspira a reafirmar com convicção que a vida humana é sagrada
e sua dignidade inviolável.
Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil, nos
ajude em nossa missão de fazer ecoar a Palavra de Deus: “Escolhe, pois, a vida”
(Dt 30,19).
Cardeal Raymundo Damasceno Assis
Arcebispo de Aparecida
Presidente da CNBB
Leonardo Ulrich Steiner
Bispo Auxiliar de Brasília
Secretário Geral da CNBB
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