O Anjo do Senhor anunciou a Maria! – E ela concebeu do Espírito Santo. Eis a escrava do Senhor! – Faça-se em mim segundo a tua Palavra. O Verbo se fez Carne! E habitou entre nós. A Igreja põe em nossos lábios, na oração do “Angelus” estas belíssimas expressões, intercaladas pela “Ave-Maria”, para recordarmos continuamente, três vezes ao dia, o mistério da Encarnação do Verbo de Deus no ventre puríssimo da Virgem Maria. É tanto verdade, que não nos é estranho ouvir os sinos de igrejas que convidam às “Ave-Marias”. Que tais badaladas continuem a ritmar de serenidade nossos passos tantas vezes agitados, mas sedentos de Deus!
O Anjo Gabriel anunciou a Maria! Os anjos são criaturas espirituais que assim são chamadas quando encarregadas de tarefas importantes. Aquele cujo nome significa “Força de Deus” veio à humilde cidade de Nazaré para comunicar a notícia dentre todas mais aguardada, objeto da esperança de séculos, alimentada pelos profetas. Com este anúncio, irrompe a maturidade dos tempos (Cf. Gl 4, 4), contando Deus apenas com a resposta daquela jovenzinha simples e aparentemente frágil. A coragem de sua resposta mudou a história (Lc 1, 26-38).
Maria nunca pronunciou a palavra latina “fiat”, pois não conhecia tal língua, como não sabia grego. Que palavra terá pronunciado naquele momento? Trata-se de uma palavra que todos conhecemos e repetimos com freqüência. Ela disse “Amém”, a palavra com que um hebreu exprimia seu assentimento a Deus. Ao lado das palavras “Abbá” ou “Maranatha”, também o “amém” foi conservado na língua falada por Jesus e Maria. Com esta palavrinha se diz tanta coisa a Deus: “se assim te agrada Senhor, eu também quero”. É como o sim total e alegre que os noivos são chamados a pronunciar no matrimônio.
Sua resposta não foi de resignação passiva. O verbo que o evangelista usa serve para demonstrar alegria, desejo, sadia ansiedade de que algo aconteça. Os fatos que se seguiram, quando visitou sua prima Isabel, nos fazem ver uma jovem que exulta, explode de felicidade. É que a fé faz as pessoas felizes. Crer é o que existe de mais bonito. É nossa maior honra e realização, que grita por um Amém!
Mas justamente aqui se encontra a dificuldade de nosso tempo. Dizer amém a qualquer realidade, mesmo se esta é próprio Deus, parece lesivo à liberdade. Não consentir, protestar, brigar, fazer cara feia, revoltar-se, parece ser a palavra de ordem. No entanto, acaba-se dizendo algum amém, nem que seja à própria amargura e à briga sistemática com tudo e todos.
Mas voltemos à nossa capacidade de crer. O mistério que se desdobra diante de nossos olhos durante os dias que passam parece incrível, “não acreditável”, mas nos move as raízes mais profundas. Olhar para a cena do presépio é o apelo da fé: contemplar a pequenez que se faz imensa, uma mãe com um recém-nascido ao colo, amamentado para depois repousar numa manjedoura, um José da vida que é São José, animais como testemunhas, pastores que representam os pobres e pequenos para que pequenos sejamos, reis magos vindos de longe atrás da estrela. É inesgotável a riqueza do que se descortina aos nossos olhos. E tudo começou com um amém!
E o Verbo feito Carne habitou entre nós! Ele vem de novo, como visitante que de pequeno se fez grande, é Senhor e Salvador, morreu e ressuscitou, nele estão todas as nossas esperanças, nele se encontra o rumo da existência humana. Em torno dele a história se desenvolve! Malgrado todas as nossas marchas e retrocessos, Ele é o Senhor da história, é princípio e fim de tudo! Amém!
A poucos dias do Natal, em tempo de presentes, uma oração antiga da liturgia ortodoxa (Cf. Raniero Cantalamessa, Gettate le reti, Ano B, PIEMME, 2004) ajuda a preparar um belo e enfeitado pacote para o aniversariante: “O que podemos oferecer-te, ó Cristo, em troca por te fizeres homem por nós? Todas as criaturas te trouxeram o testemunho de sua gratidão: os anjos com seu canto, os céus com a estrela, os Magos com seus dons, os pastores com a adoração, os céus deram as estrelas, a terra uma gruta, o deserto a manjedoura. Mas nós te oferecemos uma Mãe Virgem!” Amém!
A oração do Angelus, ao badalar das Ave-Marias, assim se conclui: “Derramai, ó Deus, a vossa graça em nossos corações para que, conhecendo pela mensagem do anjo a encarnação do vosso Filho, cheguemos, por sua paixão e cruz, à glória da Ressurreição!” E nós dizemos Amém!
Dom Alberto Taveira Corrêa Arcebispo Metropolitano de Belém |
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